garoa daquele fim de tarde anunciava o outono, enquanto a noite começava a se espalhar pelo céu. O clima frio pediu que casacos e toucas fossem retirados do guarda-roupa. No fogão, a água começava a ferver, soltando um vapor que dançava sobre a chaleira.
Na sala, 100 peças de um quebra-cabeça tomavam a atenção de quatro crianças. Espalhadas pelo chão, elas tentavam encaixar as peças para formar a imagem do Pequeno Príncipe ao lado de sua rosa. Roseli, observando-os, buscava detalhes no desenho que poderiam ajudá-los. Com um sorriso no rosto, perguntou: — Como estão indo com a montagem?
Os quatro se levantaram de uma vez, falando todos juntos, sem que a avó conseguisse entender. Ela pediu que se acalmassem e que respondessem um de cada vez. Alice, com os braços erguidos, disse: — Eu já achei duas peças da rosa, mas o Matias pegou da minha mão e misturou tudo de novo.
Emanuel, com os olhinhos brilhando, completou: — Vovó, vem ajudar a gente!
— É, Vovó! O papai disse que você é muito boa em montar quebra-cabeças — gritou Aurora, explicando o motivo do convite.
Roseli pediu que se acalmassem e foi até a cozinha preparar um chá de hortelã. Voltou logo em seguida para a sala e se sentou no sofá, assistindo aos netos por um tempo. Aurora, com o rosto curioso, perguntou: — Vó, você trabalha na fábrica de quebra-cabeças?
Roseli riu com doçura: — Não, Aurora. Eu trabalho como designer pedagógica em uma empresa chamada B42.
Todos pararam de olhar para o jogo, se entreolharam, franziram a testa e, ao mesmo tempo, gritaram: — O quêêêêêêê????
Em meio a muitas risadas, a avó decidiu explicar aos netos sobre suas funções no trabalho pedagógico. Para que eles entendessem melhor, ela se sentou no chão com eles, pegou uma peça do quebra-cabeça e disse: — Vou contar uma historinha para vocês entenderem como é o meu trabalho, tudo bem?
A euforia tomou conta da sala. Todos gritaram e logo se acalmaram. Roseli, com a peça na mão, começou: — Vejam bem, anos atrás fui para a faculdade estudar e me formei em Letras, que é o curso que ensina a trabalhar com as línguas, tanto o português quanto o inglês. Então, me tornei professora de crianças, igual a vocês. Depois, comecei a dar aula para adolescentes, no Ensino Fundamental e no Ensino Médio. E, mais tarde, fui trabalhar no Ensino Superior.
Aurora, com os olhos brilhando, perguntou: — Uau, vó! Você foi professora de tudo isso? E o que aconteceu depois?
Roseli fez uma pausa, com um sorriso, e respondeu: — Bem, depois de um tempo, precisei ficar um pouco afastada das aulas por causa da minha saúde. Mas, em vez de parar de ensinar, aproveitei esse tempo para escrever materiais de estudo. Eu ajudava a criar os livros e os textos que os professores usam para ensinar.
Matias, curioso como sempre, quis saber mais: — Então, vó, o que você faz hoje?
— Hoje, eu trabalho em uma empresa chamada B42 como designer pedagógica. Isso quer dizer que eu ajudo a criar e organizar os materiais de ensino para que sejam mais legais e fáceis de entender — disse Roseli com calma.
— Mas, vó, o que é uma designer pedagógica? — perguntou Alice, ainda tentando entender.
Roseli continuou: — Ah, é como montar um grande quebra-cabeça, Alice. Eu ajudo a organizar as peças do conhecimento e fazer com que elas se encaixem direitinho, para que todo mundo consiga entender e aprender de forma legal.
Durante a conversa, Nadine e Bruno, filha e filho de Roseli, também se interessaram em ouvir a história e se sentaram no sofá. Nadine, curiosa, perguntou: — Mãe, agora quero entender também. Me explica: quando um cliente contrata um serviço, quais são os passos que você precisa dar para que o trabalho aconteça?
Roseli, com um olhar atento, começou a explicar: — Quando um cliente contrata um serviço, o primeiro passo é ter uma reunião com os gestores da B42 para alinharmos como será o trabalho. Depois, fazemos outra reunião com o cliente para entender suas expectativas e desenhar o projeto conforme as necessidades dele. A partir daí, é hora de reunir a equipe da B42 — como a Thayla, a Juliana, os designers gráficos e desenvolvedores — para garantir que todos saibam o que precisa ser feito.
Ela olhou para os filhos e depois para os netos, que agora prestavam atenção, deitados com os queixos apoiados nas mãos: — Durante o andamento do projeto, eu acompanho tudo de perto. Participo de reuniões diárias para ver como as coisas estão andando, e de outras com os gestores da empresa para garantir que está tudo no caminho certo. Essas reuniões são como montar um quebra-cabeça: cada conversa ajuda a encaixar uma peça no lugar certo. No fim, tudo precisa fazer sentido para quem vai aprender com aquilo que criamos.
Bruno refletiu e disse: — Parece muito com o que você sempre fez, mãe. Só mudou o cenário.
— É verdade — respondeu Roseli. — Comecei a trabalhar na B42 em março de 2023, depois de anos coordenando projetos educacionais em redes de ensino. A transição foi natural, mas exigiu escuta, adaptação e, principalmente, resgate. Resgate de tudo que a sala de aula me ensinou.
Ela completou: — Na B42, o designer pedagógico atua como elo entre quem escreve e quem transforma esse conteúdo em experiência. É esse profissional que garante que o conteúdo chegue até o estudante com clareza, propósito e coerência.
Matias ergueu a mão como se estivesse na escola: — Vó, e se o professor não gostar do que você mudou no texto?
— Ah, isso acontece, sim! Às vezes, o professor não gosta de alterações. Já tive que explicar com muito jeitinho que a mudança não é crítica, mas um cuidado técnico para melhorar o material — explicou.
Emanuel cochichou para Alice: — Então a vovó é tipo uma fada do conteúdo!
Todos riram. Roseli passou a mão nos cabelos dos netos e finalizou: — No fundo, meu trabalho é transformar o conhecimento em caminho. É criar experiências que ensinem de verdade. E isso, meus amores, é um tipo de magia também.
Todos aplaudiram a aula com entusiasmo, levantaram-se e seguiram rumo à cozinha. Depois de tanta informação, era o estômago quem falava mais alto — pedindo bolachinhas e chá para aquecer a noite, que se tornava cada vez mais fria.