Ficar ou correr? Cocriação com as Inteligências Artificiais no cenário educacional

Escrito por 
Karina N. Tomelin
Publicado 
30/7/2024
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e você pudesse viajar no tempo, para onde iria? O que gostaria de saber? Imagine que possa ir até o futuro e ver o impacto das Inteligências Artificiais no planeta. O que você vê? Quais são os problemas, os erros e os acertos desta invenção para a humanidade? E se pudesse voltar ao presente, o que faria para evitá-los ou aproveitá-los? 

Agora, vamos fazer um salto para o passado e ver o que ele pode nos ensinar sobre o futuro. Quando a energia elétrica surgiu, uma série de produtos e invenções passaram a ser criados. Com a explosão de criatividade, as patentes passaram a proteger as descobertas e seus inventores, fomentando  o desenvolvimento de  milhares de objetos até então inimagináveis sem a eletricidade. 

Alguns empregos também deixaram de existir, como os lampiões, que acendiam e apagavam manualmente as luzes; os carregadores de carvão, que transportavam o principal combustível da época; os galopeiros, que enviavam mensagens; os faroleiros; entre outros. 

Estamos passando por um cenário parecido com o surgimento da Inteligência Artificial. Aplicativos, recursos, plataformas e ferramentas surgem rapidamente. Antes mesmo que pudéssemos imaginá-las, descobrimos sua existência. Também passamos a ver atividades e profissões serem substituídas e outras serem criadas pelas automações da IA.

Talvez, a maior diferença entre as duas revoluções seja a velocidade com a qual nos adaptamos às invenções. Nos séculos passados, tínhamos tempo para nos adaptar ao cenário de mudança. Eric Teller, CEO da Google X, faz a seguinte analogia: quando os carros a combustão foram inventados, tivemos tempo de adaptar as ruas, códigos de trânsito e sinalização antes que as ruas ficassem cheias de carros. 

Com a velocidade em que as tecnologias digitais impulsionam as transformações, está cada vez mais difícil conseguir nos adaptarmos na rapidez com que as coisas acontecem. Quando a plataforma do Uber foi criada, por exemplo, o mundo viu surgir uma nova modalidade de transporte que gerou uma série de conflitos, até hoje, sem consensos, especialmente sobre as condições de trabalho dos motoristas.

Friedman (2017)

O problema, a meu ver, não é mais a velocidade da adaptação. Vivemos uma dissonância cognitiva sobre o que é coerente fazer. Ficar ou correr? Gerenciar o medo de estar de fora, conhecido como FOMO, não agindo de forma impulsiva ou apressada em um cenário que nos pede reflexão ou arriscar tudo, investir no pioneirismo em futuros nebulosos e desconhecidos. Na curva de difusão da inovação, em que lugar você quer estar, ou você precisa estar?

Rogers (1962)

A difusão de inovações é uma teoria que busca explicar como, porque e como a velocidade das novas ideias e tecnologias se espalham. A teoria foi popularizada por Everett Rogers, em seu livro Diffusion of Innovations,  publicado em 1962. Nele, Rogers classifica em categorias os adotantes das inovações entre os inovadores, pioneiros, maioria inicial, maioria tardia e retardatários. No lado esquerdo estão os que recebem com mais facilidade as inovações e, no lado direito, com mais dificuldade. 

No cenário educacional, temos oportunidades incríveis de ver a IA (inteligência artificial) como verdadeira AI (assistente inteligente), apoiando os professores em processos avaliativos, criativos, autorais e tantos outros. O professor, ao mesmo tempo que se alfabetiza em IA, orienta e ensina seus estudantes sobre os recursos. 

Mas a dimensão não é só técnica. É muito mais ética, o que exige um equilíbrio entre cautela e proatividade, bem como o nível de profundidade com que adotamos a IA nas atividades que realizamos. 

Questões como integridade acadêmica, viés cognitivo e proteção de dados precisam ser considerados. Incluir, de forma responsável e supervisionada, recursos para aprimorar o processo de ensino e aprendizagem, considerando aspectos críticos, reflexivos e humanos, é fundamental para construção de cenários colaborativos, cocriados mais otimistas na interação do homem com as tecnologias. 

Para tanto, um dos caminhos talvez seja identificar pesquisadores, educadores com práticas intencionais, exitosas, consolidadas e focadas na adoção de inteligências artificiais no processo de ensino e aprendizagem, nos apoiando no seu uso de forma mais segura e responsável. 

Referências

FRIEDMAN, T. Obrigado pelo Atraso. Editora Objetiva, 2016.
ROGERS, E. Difusão de Inovações. 5. ed. Simon e Schuster, 1962.

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